TANIA CLAUSELL WANCLIK
>From: "Rubens Tellechea"
<rtellechea@terra.com.br>
>Date: Thu, 11 Nov 2004 08:19:13
-0200
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>Folha de S.Paulo - Rubens Tellechea Clausell:
A água e o futuro do Nordeste
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> São Paulo, quinta-feira, 11 de
novembro de 2004
TENDÊNCIAS/DEBATES
Rubens Tellechea
Clausell é engenheiro agrônomo.
A água e o futuro do Nordeste
RUBENS TELLECHEA CLAUSELL
O Nordeste brasileiro é uma
região prejudicada pela baixa reserva de água e poucas chuvas. As chuvas
irregulares e a intensa insolação se estendem
por quatro
a cinco meses, repetindo-se a cada dez anos.
São também fatores limitantes do
desenvolvimento da agricultura no Nordeste:
1) a pouca profundidade dos solos e seu caráter pedregoso;
2)
a salinidade dos açudes,
por evaporação nas secas e por infiltração na vizinhança do mar;
3) a formação mineral.
Nesses últimos anos, com o
aparecimento de líderes rurais, tem-se alcançado boa produtividade na
agricultura e nos criatórios de bovinos, suínos, ovinos e aves.
Mas ainda as populações locais vivem de produtos de maior custo. Há os
que já conseguem operários melhores, ainda em média produção e em minifúndios
fracionados que os fazem sonhar com as cidades. Migram com a esperança de
trabalho em terras mais férteis, com águas regulares e produtivas, no Sul,
Centro e Norte do Brasil.
São os "sem-terra e sem
esperança", mencionados pelo coordenador nacional do MST, João Pedro Stedile, que agora afirma que a reforma agrária no Brasil
anda a "passos de tartaruga", no que tem razão.
Acrescenta ele que "não há espaço
para a reforma agrária" -o que não é verdade.
Tem urgência na região o
trabalho tecnológico, econômico e social, considerando as suas peculiares condições
As afirmações de Stedile ocorreram em debate no Fórum Social Mineiro, onde
desconsiderou a reforma agrária em todos os seus bons propósitos. Propósitos
esses exeqüíveis com assistência técnica, maiores investimentos, administração
comercial e coletiva e recursos para trabalhar em áreas maiores e as suprir com
água.
Nos Estados do Nordeste, a Reforma Agrária Cooperativa (RAC), com diretivas políticas,
assistência técnica e financiamento, terá sucesso em poucos anos. Sua
agropecuária pode atingir altas produções, suprindo outros Estados e
exportando, especialmente para o hemisfério Norte, valiosas frutas tropicais.
Esse movimento, combinando água,
trabalho, tecnologia e dinheiro, elevará a produção nas cooperativas rurais -que,
assistidas pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) nos
Estados e com unidades na proporção de seus territórios, tornarão o Nordeste
exemplo mundial. A assistência financeira internacional, já oferecida ao
presidente Lula, a ser regida pelo Banco do Nordeste, dentro de critérios técnicos
predefinidos e operacionais, reformará a região.
Estamos sentindo esse
progresso: a produção de abacaxi no vale do Jaguaribe, para exportação, no
valor de US$ 6 milhões, com novos plantios de frutas
sendo preparados, crescerá em vendas também na Europa, a maior compradora
mundial de frutas, devido a trabalho realizado pela Embrapa. Em 2007 essa
empresa pretende plantar 2.500 hectares, para faturar R$ 60 milhões. E exportar
melão, caju processado sob diversas formas, suco concentrado, doce e seus
externos caroços tostados.
Agricultores gaúchos
iniciaram há mais de 20 anos, em Petrolina (PE), com águas do São Francisco e "sem
transposição", a produção de uvas para vinho, em três colheitas a cada
dois anos, e exportam o produto, além de muitas outras frutas. A Secretaria da
Agricultura do Ceará relata que o sucesso na fruticultura nordestina foi possível
por investirem em infra-estrutura hídrica, que permite ainda outros cultivares,
para o mercado interno e o exterior.
Os Estados do Nordeste,
recebendo as indispensáveis águas, poderão intensificar a produção de frutas,
sob condições climáticas favorecidos pela proximidade do hemisfério Norte. Devemos
preparar nossos portos e serviços diplomáticos, além de terras fertilizadas e
com plantios adequados não só de árvores frutíferas, mas também de algodão e
com produção de carnes diversas.
A grande tarefa será implantar
unidades de RAC, ocupando tecnicamente suas terras e tornando possível vida
digna para sua sofrida população. Tem urgência na região o
trabalho tecnológico, econômico e social, considerando as suas
peculiares condições. A RAC não foi iniciada por essa tarefa ter deixado de ser
do Ministério da Agricultura. Sabemos que poderá ser realizada, com cooperação
internacional e a dedicação de bons técnicos existentes nas unidades estaduais
do Incra. O ministro Roberto Rodrigues tem grande vivência em cooperativas
internacionais e não se eximirá de transferir sua experiência de professor em
favor das populações nordestinas.
Rubens Tellechea Clausell é engenheiro agrônomo.